#IncipitBrasil A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA Moacyr Scliar

"Muita gente pergunta por que me dedico à terapia de vidas passadas. Minha resposta varia conforme as circunstâncias. Quando sou entrevistado na tevê ou no rádio -- e sou muito entrevistado --, declaro, de forma propositadamente reticente, que cheguei a isso por artes do destino. O resultado é, em geral, muito bom, traduzindo-se em admiradas exclamações por parte de entrevistadores e do público eventualmente presente. Destino é uma palavra de que as pessoas gostam muito; associam-na com o sobrenatural, com astros, coisas que sempre impressionam. Aproveitando o frisson, vou além. A princípio com certa dificuldade -- patusas vacilantes, penosos silêncios --, mas logo com crescente entusiasmo -- como se as comportas se tivessem aberto, entende?, as comportas da emoção -- revelo que minha profissão originalmente era outra: professor de História. O que, de novo, é uma surpresa: imaginam-me psicólogo ou médico."

O trecho acima é o incipit de A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA, mas não resisto e coloco o início da participação dela, a maravilhosa, culta e feia: a mulher que escreveu a Bíblia.

Neste livro divertidíssimo e ao mesmo tempo erudito, uma mulher submete-se a uma terapia de vidas passadas e, nesse processo, descobre (ou conclui) que ela escreveu a primeira versão da Bíblia há três mil anos.

"A feiúra é fundamental, ao menos para o entendimento desta história. É feia, esta que vos fala. Muito feia. Feia contida ou feia furiosa, feia envergonhada ou feia assumida, feia modesta ou feia orgulhosa, feia triste ou feia alegre, feia frustrada ou feia satisfeita -- feia, sempre feia."

A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar, Companhia das Letras, 1999, São Paulo, 216 páginas.

Muito se diz no primeiro parágrafo de um livro. Aqui, só ficção brasileira. É o que gosto de ler. É o que escrevo. Sandra Abrano

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