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Mostrando postagens de agosto, 2018

# IncipitBrasil HANÓI Adriana Lisboa

"Alguém tinha contado a David a história do sujeito diagnosticado com uma doença grave a quem o médico só havia dado um ano de vida: o doente pediu demissão do emprego, vendeu tudo o que tinha e foi gastar numa farra de dimensões épicas. Pouco depois, descobriu-se que o diagnóstico estava errado. Parece que o médico teve que enfrentar um processo, mas daí em diante a história perdia o interesse para David." Hanói, de Adriana Lisboa, Alfaguara, 2013, Rio de Janeiro, 238 páginas. Em uma entrevista, Adriana Lisboa indicou a leitura de  O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde,  obviamente a edição sem adaptações. Até hoje agradeço o toque. É do seu sexto romance o incipit que escolhi.  Da quarta capa: Hanói é um romance sobre deslocamentos, sobre detalhes que mudam um destino, e sobre a transitoriedade da vida. A cidade, aqui, é mais do que localidade geográfica: é um futuro imaginado, onde David, doente e determinado a levar a cabo um projeto radical, deposita esperan

#IncipitBrasil TERNO DE REIS Daniel Brazil

"Penso muito nas minhas escolhas, por toda a vida. E cada vez mais me parece que fiz parte de um jogo, um misterioso jogo do qual fui único participante, em todas as rodadas. Tive o controle das peças a maior parte do tempo, mas nos momentos decisivos alguém ou algo decidiu por mim. Quem traçou meu desígnio, não sei. Nunca fui de acreditar em anjos, deuses, espíritos ou demônios. Se isso me livrou das trevas, também evitou que ficasse cego de luz. Caminho para a penumbra ciente de que algo extraordinário me aconteceu, e que nunca terei uma explicação racional para isso." Sou fã do Daniel Brazil, contista. Daniel não aceitou a garantia do respeito conquistado como ganhador de tantos e variados prêmios nesse gênero e decidiu encarar a estreia em livro publicado com um romance. Tive o prazer de ser uma das leitoras de TERNO DE REIS ainda no original. Essa semana o #IncipitBrasil é dele. Da orelha do livro: TERNO DE REIS, pelo título, pode sugerir um romance regionalista, co

#IncipitBrasil A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA Moacyr Scliar

"Muita gente pergunta por que me dedico à terapia de vidas passadas. Minha resposta varia conforme as circunstâncias. Quando sou entrevistado na tevê ou no rádio -- e sou muito entrevistado --, declaro, de forma propositadamente reticente, que cheguei a isso por artes do destino. O resultado é, em geral, muito bom, traduzindo-se em admiradas exclamações por parte de entrevistadores e do público eventualmente presente. Destino é uma palavra de que as pessoas gostam muito; associam-na com o sobrenatural, com astros, coisas que sempre impressionam. Aproveitando o frisson, vou além. A princípio com certa dificuldade -- patusas vacilantes, penosos silêncios --, mas logo com crescente entusiasmo -- como se as comportas se tivessem aberto, entende?, as comportas da emoção -- revelo que minha profissão originalmente era outra: professor de História. O que, de novo, é uma surpresa: imaginam-me psicólogo ou médico." O trecho acima é o incipit de A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA, mas nã

#IncipitBrasil DIA SANTO Humberto B. Leal

"Nasci e vivi muito tempo na Amazônia. Criança de brincar nos beiradões dos rios lamacentos, de carregar as bacias de roupa de minha avó que labutava sobre balsas de sapopema, de me esconder do meu pai me chamando para beber purgantes contra todo tipo de verme e cujo gosto intragável fui incapaz de esquecer. Aprendi a nadar nos igarapés, vivi em cortiços na minha primeira infância, ouvi muitas histórias de visagens e presumo ter visto fantasmas confabulando na solidão das calçadas. Eu e uma porção de crianças costumávamos passar as manhãs, enegrecidos pelo sol amazônico, a ver as embarcações passando ao largo, no rio Negro, sem preocupação com a vida ou a morte." Dia Santo, romance de Humberto Batista Leal,  Maltese, São Paulo, 1992, 158 páginas. Do prefácio de Raquel de Queiroz: "E é preciso se ter uma certa preparação psicológica para ler e ouvir o DIA SANTO. Esquecer o meramente folclórico, sentir a Amazônia na sua carna e na sua força. Ali, não se recebe o santo