#IncipitBrasil ÍRISZ: as orquídeas Noemi Jaffe

"Eu precisaria estar tonto ou ser mais parecido com ela para ficar escrevendo sobre o que não sei. Precisaria começar a chorar e não sei mais. A palavra que explica a falta que ela me faz está presa no dicionário e não sei tirá-la de lá, porque preciso de Írisz para me ensinar. Releio o que escrevo e já não sei mais se faz sentido. Talvez seja bonito, talvez eu tenha aprendido com ela a transformar em metáfora tudo o que vejo. Se for bonito, a beleza não é minha -- é dela. Achei que indo muito longe, falando de um jeito tão diferente do meu, eu ficaria mais próximo de uma forma de pensar e de falar que vem da morte, mas que por isso mesmo está mais perto da vida. Ela não quer mais saber da dor, porque a conhece pelo nome, já conversou com ela. Minha perda é teórica, e deve ser por isso que minha fala é mais sombria. Eu fico aqui, com minha dor intelectual, tentando imitá-la e só o que consigo escrever são palavras mornas."

Companhia das Letras, 2015, 222 páginas.

Da 4a capa: Quando a União Soviética invade a Hungria, em 1956, Írisz foge de Budapeste, deixando para trás uma revolução fracassada, uma mãe senil, um amor mal resolvido e um passado cheio de lacunas. É no Brasil que ela vem parar, com a intenção de pesquisar orquídeas para cultivá-las em sua terra natal. O que Írisz não imagina é que encontrará, nessas espécies raras, espelhos que a ajudarão a refletir sobre sua própria vida e sobre o que a trouxe até aqui.

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