#IncipitBrasil A CHAMA E O VENTO Sérgio Mudado

"O mar!
Tão logo pisa na areia, saindo do trigal dourado que a mantinha invisível, sente intenso ardor fustigando sua nuca. Trata-se, ela sabe, do olhar incandescente do Cão Negro, perseguidor implacável, sempre rondando em sua busca, deixando um turbilhão de fogo sobre o rastro. Pode escutar o rosnado e o terror sombrio que dele emanam. Tolera. Não se volta. Sente-se confiante. Tomara uma decisão que transcendia a si mesma -- sua renúncia ao mundo. Acabaram-se os sonhos da terra, seu sonho agora é o mar. E o oceano, brando, próximo, parece ansiá-la, prometendo-lhe o alívio da dor. De toda a dor. Entra na água. A espuma fria cinge-lhe os pés descalços. O mar! Avança. Uma nova marge descortina-se como outra aurora... Respira fundo. É necessário que cumpra uma última coragem..."

Kore Editora, 2015, 252 páginas.

Da orelha: "Da varanda, aturdido, ainda pude ver o carro em que ela entrou roncar o motor e partir, sem acender lanternas e faróis, desaparecendo na noite. Assim, em março de 1969, no ano em que se formaria em medicina, minha irmã entrou para a clandestinidade. Faria, em breve, 24 anos. Exceto em sonhos, apenas tornaria a revê-la no Aeroporto do Galeão, quando partiu para o exílio."

Muito se diz no primeiro parágrafo de um livro. Aqui, só ficção brasileira. É o que gosto de ler. É o que escrevo.  Sandra Abrano

Comentários

Postar um comentário