#IncipitBrasil AS PERGUNTAS Antônio Xerxenesky

Indicação de Ângela Pontual

"No começo era difícil: ela acordava gritando, urros tão desesperados que despertavam os pais e o irmão, eles corriam em direção ao quarto dela imaginando uma tragédia ou no mínimo um acidente sanguinolento e a encontravam na cama, com o torso erguido, as mãos apoiadas no colchão, agarrando com força o lençol, as unhas quase rasgando o tecido, e os gritos iam diminuindo até ela entender o que tinha se passado, até compreender e localizar a linha divisória entre o mundo dos sonhos e a realidade, então ela ficava em silêncio enquanto os pais e o irmão perguntavam “o que foi, o que foi?” e ela respondia com uma voz rouca de quem arranhou as cordas vocais que “foi só um pesadelo”, mas ela sabia que a explicação era simplista, que não valia a pena repetir o que contara aos pais nas primeiras vezes que acordou gritando, isto é, que mesmo depois de acordar, continuava enxergando sombras no quarto, e seu pai, do alto do seu cientificismo, explicava que o cérebro demora um pouco para entender que não está mais sonhando, ainda mais quando a pessoa desperta assim, de repente, e que continua projetando imagens residuais do pesadelo."

Cia das Letras, 2017, São Paulo, 177 páginas

Da 4a capa:  Aline enxerga sombras e vultos desde criança. Doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultas e aferrada à racionalidade que tudo ilumina, ela se acostumou a considerar as aparições como simples vestígios de sonhos interrompidos. Seu próprio emprego numa produtora de vídeo consiste em manipular imagens virtuais de pessoas e coisas gravadas, a rigor não muito distintas dessas ilusões mentais. Certo dia, um telefonema da delegacia desarruma seus dias de tédio programado. A polícia suspeita de que uma seita venha causando uma onda de surtos psicóticos em São Paulo – pessoas de classe média desaparecidas, sem histórico de distúrbios psiquiátricos, têm sido encontradas nas ruas da cidade, desorientadas como se habitassem um universo à parte. A única pista disponível é um símbolo geométrico desenhado por uma das vítimas. Intrigada e ansiosa para fugir da rotina, Aline decide investigar por conta própria um mistério que a fará questionar os limites entre razão e religião, cultura e crença.

Comentários

  1. Ih, que interessante. Também um pouco assustador. O pequeno espaco entre nossos sonhos e realidade é um mundo a parte. Nunca li nada do Xer...eita no e difícil. Vi uma entrevista dele sobre Cortazar( será??) que me levou a gostar muito do autor. Preciso conhecer.

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