#IncipitBrasil QUEDA DA PRÓPRIA ALTURA de Sérgio Tavares

"de todas as analogias possíveis à vida, a de uma estrada é a que menos evoca as inspirações pré-fabricadas e a poesia antipessoa. você, eu, o bebê que se descobre humano ao dar o primeiro passo delineamos uma estrada que vai transfigurar matiz, massa e bússola ao longo da vida. há pessoas, com certas vocações passarinhas, que têm uma estrada retilínea, serena e comprida de não enxergar horizonte. outras, que costumam mendigar o desassossego, perdem-se em labirínticas breias, surdas e curtas de medir queda com a própria altura. há ainda aquelas que, quando muito (este terrível mundo!), disparam num zigue-zague contínuo, caminhando uma estrada que não é sua, sem estanque ou absolvição. estradas começam agora; outras, de tão velhas, são esquecidas, deslocadas no tempo. são ocas, eco, ocas, pedregosas de abrir os pés, escoar a chuva, abandonadas ao som da noite. e, como a vida, toda estrada tem fim.

nem toda."

Confraria do Vento,  2012, Rio de Janeiro, 244 páginas.

Da orelha do livro, escrita por Lúcia Bittencourt:  Elaborando em cenas os estereótipos que nos destroem e os silêncios que nos asfixiam até provocar o câncer que nos impede de seguir nesta viagem a um lugar desconhecido, sem ponto de chegada ou sequer de partida, ele nos convida a embarcar nas asas de sua imaginação e nos deixa planando num universo paralelo e fantasmagórico que aprendemos a reconhecer (e repudiar) como exemplo de vida.


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