"de todas as analogias possíveis à vida, a de uma estrada é a que menos evoca as inspirações pré-fabricadas e a poesia antipessoa. você, eu, o bebê que se descobre humano ao dar o primeiro passo delineamos uma estrada que vai transfigurar matiz, massa e bússola ao longo da vida. há pessoas, com certas vocações passarinhas, que têm uma estrada retilínea, serena e comprida de não enxergar horizonte. outras, que costumam mendigar o desassossego, perdem-se em labirínticas breias, surdas e curtas de medir queda com a própria altura. há ainda aquelas que, quando muito (este terrível mundo!), disparam num zigue-zague contínuo, caminhando uma estrada que não é sua, sem estanque ou absolvição. estradas começam agora; outras, de tão velhas, são esquecidas, deslocadas no tempo. são ocas, eco, ocas, pedregosas de abrir os pés, escoar a chuva, abandonadas ao som da noite. e, como a vida, toda estrada tem fim. nem toda." Confraria do Vento, 2012, Rio de Janeiro, 244 páginas. Da or...